Com a intenção de deixar os
gonçalenses sempre bem informados, o Território Gonçalense publica abaixo o
artigo do historiador Marco Antônio Villa sobre os 18 meses do Governo Dilma, publicado
no Blog do Noblat, na última terça-feira (26/06).
O governo Dilma parece velho
Por Marco Antônio Villa
O governo Dilma Rousseff completa 18 meses. Acumulou fracassos e mais fracassos. O papel de gerente eficiente foi um blefe. Maior, só o de faxineira, imagem usada para combater o que chamou de malfeitos.
Na história da República, não houve governo que, em um ano e meio, tenha
sido obrigado a demitir tantos ministros por graves acusações de corrupção.
Como era esperado, a presidente não consegue ser a dirigente política do seu
próprio governo. Quando tenta, acaba sempre se dando mal. É dependente
visceralmente do seu criador. Está satisfeita com este papel. E resignada. Sabe
dos seus limites.
O presidente oculto vai apontando o rumo e ela segue obediente. Quando não
sabe o que fazer, corre para São Bernardo do Campo. A antiga Detroit brasileira
virou a Meca do petismo.
Nunca tivemos um ex-presidente que tenha de forma tão cristalina interferido
no governo do seu sucessor. Lembra o que no México foi chamado de Maximato
(1928-1934), quando Plutarco Elias Calles foi o homem forte durante anos, sem
que tenha exercido diretamente a presidência.
Lá acabou numa ruptura. Em 1935 Lázaro Cárdenas se afastou do “Chefe Máximo”
da Revolução. Aqui, nada indica que isso possa ocorrer. Pelo contrário, pode
ser que em 2014 o criador queira retomar diretamente as rédeas do poder e mande
para casa a criatura.
O PAC — pura invenção de marketing para dar aparência de planejamento
estatal — tem como principal marca o atraso no cronograma das obras, além de
graves denúncias de irregularidades. O maior feito do “programa” foi ter alçado
uma desconhecida construtora para figurar entre as maiores empreiteiras
brasileiras.
De resto, o PAC é o símbolo da incompetência gerencial: os conhecidos
gargalos na infraestrutura continuam intocados, as obras da Copa do Mundo estão
atrasadas, o programa “Minha Casa, Minha Vida” não conseguiu sequer atingir 1/3
das metas.
O Nordeste é o exemplo mais cristalino de como age o governo Dilma. A região
passa pela seca mais severa dos últimos 30 anos. A falta de chuva já era
sabida. Mas as autoridades federais não estavam preocupadas com isso. Pelo
contrário. O que interessava era resolver a partilha da máquina estatal na
região entre os partidos da base.
Duas agências foram entregues salomonicamente: uma para o PMDB (o DNOCS) e
outra para o PT (o Banco do Nordeste). E a imprensa noticiou graves desvios nos
dois órgãos, que perfazem quase 300 milhões de reais. A “punição” foi a
demissão dos gestores.
Enquanto isso, desejando mostrar alguma preocupação com os sertanejos, o
governo instituiu a bolsa-seca, 80 reais para cada família cadastrada durante 5
meses, perfazendo 400 reais (o benefício será extinto em novembro, pois, de
acordo com a presidente, vai chover na região e tudo, magicamente, vai voltar
ao normal). Isto mesmo, leitor. Esta é a equidade petista: para os mangões,
tudo; para os sertanejos, uma esmola.
Greves pipocam pelo serviço público. As promessas de novos planos de
carreiras nunca foram cumpridas. A educação é o setor mais caótico. Não é para
menos. Tem à frente o ministro Aloizio Mercadante. Quando passou pelo
Ministério da Ciência e Tecnologia nada fez. Só discursou e fez promessas. E as
realizações? Nenhuma.
Mercadante lembra Venceslau Braz. Durante o quadriênio Hermes da Fonseca,
Venceslau foi um vice-presidente sempre ausente da Capital Federal. Vivia
pescando em Itajubá.
Quando foi alçado à presidência da República, o poeta Emílio
de Menezes comentou sarcasticamente: “É o único caso que conheço de promoção
por abandono de emprego.”
Mercadante é uma versão século XXI de Venceslau. O sistema federal de ensino
superior está parado e vive uma grave crise. O que ele faz? Finge que nada está
acontecendo. Quando resolve se manifestar, numa recaída castrense, diz que só
negocia quando os grevistas voltarem ao trabalho.
A crise econômica mundial também não mereceu a atenção devida. Como o
governo só administra o varejo e não tem um projeto para o país, enfrenta as
turbulências com medidas paliativas. Acha que mexendo numa alíquota resolve o
problema de um setor.
Sempre a política adotada é aquela mais simples. Tudo é feito de improviso.
É mais que evidente que o modelo construído ao longo das últimas duas décadas
está fazendo água (e não é de hoje). É necessário mudar. Mas o governo não tem
a mínima ideia de como fazer isso.
Prefere correr desesperadamente atrás do que considera uma taxa de
crescimento aceitável eleitoralmente. É a síndrome de 2014. O que importa não é
o futuro do país, mas a permanência no poder.
Na política externa, se é verdade que Patriota não tem os arroubos juvenis
de Amorim, o que é muito positivo, os dez anos de consulado petista
transformaram a Casa de Rio Branco em uma espécie de UNE da terceira idade. A
política externa está em descompasso com as necessidades de um país que
pretende ter papel relevante na cena internacional.
O Itamaraty transformou-se em um ministério marcado por derrotas. A última
foi na Rio+20, quando, até por ser a sede do evento, deveria exercer não só um
papel de protagonista, como também de articulador. A nossa diplomacia perdeu a
capacidade de construir consensos.
Assimilou o “estilo bolivariano”, da retórica panfletária e vazia, e,
algumas vezes, se tornou até caudatária dos caudilhos, como agora na crise
paraguaia.
O governo Dilma parece velho, sem iniciativa. Parodiando o poeta: todo dia
ele faz tudo sempre igual. E saber que nem completou metade do mandato. Pobre
Brasil.
Marco Antonio Villa é historiador.
Nenhum comentário:
Postar um comentário