Quais são os limites da palavra
escrita? Até onde um livro poderia invadir a sua zona de conforto? Aqui:
realidade. Lá: fantasia. Seria fácil? Você está mesmo tão seguro? A Linha
Tênue, o mais recente livro de Rubem Cabral, se propõe exatamente a isso:
através de 34 contos que ousam fugir do comum, que querem escapar de suas
páginas e ganhar as ruas do mundo real, deseja definitivamente conquistar seus
neurônios.
Radicado e premiado na Suíça – primeiro
lugar na categoria de “conto” no Concurso Literário Raízes, em Genebra, com o
texto Noites Brancas – Cabral, um carioca que viveu em São Gonçalo, dos 15
aos 30 anos de idade; conta, na entrevista a seguir, como a literatura entrou
em sua vida, como se dá o seu processo criativo e qual é a narrativa de seu mais novo trabalho.
Ele fala também do que mais sente falta do Brasil e da influência de São Gonçalo em suas obras literárias.
Vamos agora saber um pouco mais
sobre esse talentoso autor de contos...
Vagner Rosa:
Como surgiu o seu interesse pela literatura?
Rubem
Cabral: Vagner, desde a mais tenra idade, logo que me alfabetizei, eu comecei a
ler quadrinhos e livros infantis. Ao notarem meu interesse em ler, meus pais
compravam, na medida de suas condições, livros e revistas. Foi assim, por
exemplo, que conheci a coleção do Sítio do Pica-pau Amarelo de Monteiro
Lobato ainda com uns sete anos. Os anos se passaram e eu devorava mais
quadrinhos e mais livros, como O Pequeno Príncipe, Contos de Andersen e
dos Irmãos Grimm e muito mais. Na adolescência li muita ficção-científica, em especial Isaac Asimov,
Arthur C. Clarke, dentre outros. No segundo grau interessei-me por literatura
Brasileira e li bastante do Machado de Assis, Aluísio de Azevedo, Jorge Amado.
Já adulto interessei-me por clássicos, como Kafka e por autores de fantasia
como Neil Gaiman e Tolkien.
Vagner: Que
livro o influenciou fortemente?
Rubem: Penso
que o livro que mais me impactou foi 1984, de George Orwell, que eu li quando
tinha dezessete anos. Tal obra, escrita entre 1948 e 1949 pelo jornalista Eric
Blair (George Orwell é um pseudônimo), fala de um mundo dominado por grandes
potências em guerra perpétua, onde todas as pessoas são escrutinadas pelo
Estado e não têm mais direitos individuais.
Recomendo a
leitura deste livro a todos; seja para concordarem ou discordarem das ideias
apresentadas.
Vagner: Você
se define exclusivamente como um escritor de contos? Pretende transitar algum
dia por outros gêneros literários?
Rubem: Não.
Eu me sinto confortável escrevendo contos, pois gosto da concisão deles, de
trabalhar com poucos personagens ou de apenas descrever poucos dias de suas
vidas, mas tenho algumas ideias - que surgiram originalmente como contos - que
intenciono desenvolver sob a forma de romance. Daí, entrarei mais fundo em suas
psiquês, descreverei sem pressa seus mundos e motivações e tudo mais.
Acredito que
grandes histórias pedem romances e outras menores praticamente imploram por
contos.
Vagner: Como
se dá o seu processo criativo?
Rubem:
Normalmente uma ideia, um insight ou um sonho funcionam como mola
propulsora do processo. Na maior parte das vezes eu anoto em algum lugar e
depois começo a desdobrar a tal ideia ou mote. O processo de escrever é algo
curioso, pois ele sempre "molda" a tal faísca criativa em algo
distinto do original, quero dizer, existe sempre um processo de
"tradução" no ato de transformar aquilo que somente está dentro de
sua mente em uma torrente de caracteres no papel.
Vagner: Em
2010, você foi premiado em 1º lugar na categoria "conto" no Concurso
Literário Raízes, em Genebra, com o texto Noites Brancas. Em 2011, foi um dos
selecionados para a prestigiosa antologia anual FC do B (Tarja Editorial), com
o conto Nanovidas. Em 2012, foi selecionado para a antologia Erótica Fantástica
(Editora Draco), com o conto A Dança de Shiva. Diante desse reconhecimento do
seu trabalho, como você vê o mercado editorial para os contistas?
Rubem: Eu
considero que o mercado dos contistas talvez seja menor do que os dos
romancistas. Apesar disso, há muitos escritores renomados que são/foram
contistas também: Edgar Allan Poe, Stephen King, Rubem Fonseca, Clive Barker,
Machado de Assis, Ray Bradbury. Muitos contos foram o ponto de partida para
algo maior ou até viraram filmes.
Vagner: A
internet tem sido um canal eficiente para a divulgação de seus livros?
Rubem: Sim,
bastante. É relativamente fácil se atingir uma quantidade grande de pessoas e,
principalmente, o retorno, as opiniões, oferecem um feedback muito importante
para quem escreve. A obra colocada em mídia digital ajuda o autor a
aperfeiçoar-se numa vazão seguramente mais rápida do que era possível
antigamente.
Vagner:
Agora fale um pouco sobre o seu mais recente livro “A Linha Tênue”.
Rubem: A
Linha Tênue é uma compilação de trinta e quatro contos que obtiveram um retorno
muito positivo dos leitores/escritores "beta" (leitores críticos, que
leem antes da obra ser finalmente publicada). Outro ponto que difere o livro
dos que comumente encontramos é o uso constante da chamada "metalinguagem".
Quando lemos
um livro, em nossas mentes se forma uma espécie de linha divisória, que nos dá
certo conforto; o que acontece nas páginas é fantasia e nos vivemos no mundo
real. É esta a tal da linha tênue que eu tento romper no livro, fazendo uso de
narrações não convencionais onde o leitor é inserido como personagem ativo,
utilizando-se outros recursos não convencionais como textos em camadas, frases
que podem ser lidas de trás para frente, easter-eggs (mensagens ocultas no
texto).
Apesar deste
certo atrevimento narrativo, tive a preocupação de não complicar, de não soar
difícil. Desta forma, eu acredito que o livro seja inovador, mas sem ser
hermético ou destinado a um público específico.
Quem quiser
conhecer mais sobre o livro ou desejar comprá-lo, visite o meu blog www.contosagridoces.blogspot.com
ou o blog de divulgação do livro www.livroalinhatenue.blogspot.com
Vagner: Você
está radicado há alguns anos em Zurique (Suíça). Responda-nos uma curiosidade:
os suíços leem muito? Qual é o gênero literário mais lido ai?
Os suíços
leem bastante; é comum de se ver gente lendo nos transportes públicos, praças e
cafés. Acredito que o gênero do romance histórico e a fantasia são os gêneros
mais lidos. O autor brasileiro Paulo Coelho é bastante conhecido por aqui
também.
Rubem:
Mudando agora de assunto... Do que você sente mais falta do Brasil e o que
gostaria que o nosso país tivesse da Suíça?
O que mais
sinto falta do Brasil é da informalidade, da facilidade com que fazemos novas
amizades, com que conversamos e rimos com os outros. Os suíços (da parte alemã
do país) são muito mais reservados e sérios do que nós; tudo exige agendamento,
planejamento, não há muito espaço para o espontâneo.
Por outro
lado, a segurança pública, a qualidade dos serviços oferecidos pelo Estado, a
transparência na política e na administração pública, tudo isso é muito mais
avançado do que o que temos no nosso Brasil. Então, vivo hoje aqui de certa
forma sob um conflito interno; por sentir saudades do Brasil e por às vezes me
sentir um tanto estrangeiro quando estou de volta também.
Vagner: Você
é carioca, mas viveu dos 15 aos 30 anos em São Gonçalo. Que
boas recordações carregam consigo desse período gonçalense? Algumas
experiências vividas na cidade já serviram de inspiração para as suas obras?
Eu ainda
tenho parentes que vivem hoje em São Gonçalo. Na época em que mudei-me minha mãe
queria viver mais próxima do seu irmão mais velho. Eu vivia em apartamento no
Rio e fui morar em uma casa na Brasilândia, com espaço para um jardim e para
mascotes também.
Por tudo
isso, minhas lembranças são boas; dos vizinhos simpáticos, das amizades que
fiz, de sentir-me mais livre para brincar. Lembro-me do Instituto Clélia Nanci
onde terminei o 2° grau, da Praça Zé Garoto (tão bonita com seu colorido
chafariz musical), do Alcântara, grande polo comercial do Estado do
Rio. Vale lembrar que alguns personagens foram inspirados nesses tempos,
que eu guardo com carinho na memória.
Toda vez que
vou ao Brasil sempre visito São Gonçalo e tenho ficado muito feliz ao notar o
crescimento e o desenvolvimento de tudo.
Vagner: Caríssimo
Rubem, muito obrigado pela entrevista. Desejo-lhe muito sucesso para o livro
“Linha Tênue”! Abraços!
Rubem: Muito
obrigado, Vagner! Fiquei honrado com o seu convite e desejo igualmente muito
sucesso ao seu blog e mando um abraço carinhoso a todos os seus leitores.
Para adquirir o livro, clique AQUI.
Vídeo de divulgação do livro
Parabéns Vagner, você está sempre trazendo novidades legais pra gente. Gostei da entrevista do Rubem Cabral. Quero aproveitar para parabenizar o autor pelas suas obras literárias. É sempre gratificante tomar conhecimento de brasileiros que tem trabalhos reconhecidos no exterior, principalmente quando esses tem alguma ligação com a nossa cidade. Continue fazendo mais entrevistas, Vagner, você é muito bom nisso. Forte abraço!
ResponderExcluirCada vez mais tenho orgulho da nossa cidade.
ResponderExcluirParece um bom livro. Fiquei curioso.
ResponderExcluirComprei o livro e estou adorando! :)
ResponderExcluirGosto muito dos textos do Rubem, sou seguidora do seu blog. Parabéns amigo, pela entrevista, estou na torcida por muito sucesso.
ResponderExcluirBeijos
SM