domingo, 24 de junho de 2012

Entrevista com o escritor Rubem Cabral



Quais são os limites da palavra escrita? Até onde um livro poderia invadir a sua zona de conforto? Aqui: realidade. Lá: fantasia. Seria fácil? Você está mesmo tão seguro? A Linha Tênue, o mais recente livro de Rubem Cabral, se propõe exatamente a isso: através de 34 contos que ousam fugir do comum, que querem escapar de suas páginas e ganhar as ruas do mundo real, deseja definitivamente conquistar seus neurônios.

Radicado e premiado na Suíça – primeiro lugar na categoria de “conto” no Concurso Literário Raízes, em Genebra, com o texto Noites Brancas – Cabral, um carioca que viveu em São Gonçalo, dos 15 aos 30 anos de idade; conta, na entrevista a seguir, como a literatura entrou em sua vida, como se dá o seu processo criativo e qual é a narrativa de seu mais novo trabalho.

Ele fala também do que mais sente falta do Brasil e da influência de São Gonçalo em suas obras literárias.

Vamos agora saber um pouco mais sobre esse talentoso autor de contos...


Vagner Rosa: Como surgiu o seu interesse pela literatura?

Rubem Cabral: Vagner, desde a mais tenra idade, logo que me alfabetizei, eu comecei a ler quadrinhos e livros infantis. Ao notarem meu interesse em ler, meus pais compravam, na medida de suas condições, livros e revistas. Foi assim, por exemplo, que conheci a coleção do Sítio do Pica-pau Amarelo de Monteiro Lobato ainda com uns sete anos. Os anos se passaram e eu devorava mais quadrinhos e mais livros, como O Pequeno Príncipe, Contos de Andersen e dos Irmãos Grimm e muito mais. Na adolescência li muita ficção-científica, em especial Isaac Asimov, Arthur C. Clarke, dentre outros. No segundo grau interessei-me por literatura Brasileira e li bastante do Machado de Assis, Aluísio de Azevedo, Jorge Amado. Já adulto interessei-me por clássicos, como Kafka e por autores de fantasia como Neil Gaiman e Tolkien.

Vagner: Que livro o influenciou fortemente?

Rubem: Penso que o livro que mais me impactou foi 1984, de George Orwell, que eu li quando tinha dezessete anos. Tal obra, escrita entre 1948 e 1949 pelo jornalista Eric Blair (George Orwell é um pseudônimo), fala de um mundo dominado por grandes potências em guerra perpétua, onde todas as pessoas são escrutinadas pelo Estado e não têm mais direitos individuais.

Recomendo a leitura deste livro a todos; seja para concordarem ou discordarem das ideias apresentadas.

Vagner: Você se define exclusivamente como um escritor de contos? Pretende transitar algum dia por outros gêneros literários?

Rubem: Não. Eu me sinto confortável escrevendo contos, pois gosto da concisão deles, de trabalhar com poucos personagens ou de apenas descrever poucos dias de suas vidas, mas tenho algumas ideias - que surgiram originalmente como contos - que intenciono desenvolver sob a forma de romance. Daí, entrarei mais fundo em suas psiquês, descreverei sem pressa seus mundos e motivações e tudo mais.

Acredito que grandes histórias pedem romances e outras menores praticamente imploram por contos.

Vagner: Como se dá o seu processo criativo?

Rubem: Normalmente uma ideia, um insight ou um sonho funcionam como mola propulsora do processo. Na maior parte das vezes eu anoto em algum lugar e depois começo a desdobrar a tal ideia ou mote. O processo de escrever é algo curioso, pois ele sempre "molda" a tal faísca criativa em algo distinto do original, quero dizer, existe sempre um processo de "tradução" no ato de transformar aquilo que somente está dentro de sua mente em uma torrente de caracteres no papel.

Vagner: Em 2010, você foi premiado em 1º lugar na categoria "conto" no Concurso Literário Raízes, em Genebra, com o texto Noites Brancas. Em 2011, foi um dos selecionados para a prestigiosa antologia anual FC do B (Tarja Editorial), com o conto Nanovidas. Em 2012, foi selecionado para a antologia Erótica Fantástica (Editora Draco), com o conto A Dança de Shiva. Diante desse reconhecimento do seu trabalho, como você vê o mercado editorial para os contistas?

Rubem: Eu considero que o mercado dos contistas talvez seja menor do que os dos romancistas. Apesar disso, há muitos escritores renomados que são/foram contistas também: Edgar Allan Poe, Stephen King, Rubem Fonseca, Clive Barker, Machado de Assis, Ray Bradbury. Muitos contos foram o ponto de partida para algo maior ou até viraram filmes.

Vagner: A internet tem sido um canal eficiente para a divulgação de seus livros?

Rubem: Sim, bastante. É relativamente fácil se atingir uma quantidade grande de pessoas e, principalmente, o retorno, as opiniões, oferecem um feedback muito importante para quem escreve. A obra colocada em mídia digital ajuda o autor a aperfeiçoar-se numa vazão seguramente mais rápida do que era possível antigamente.

Vagner: Agora fale um pouco sobre o seu mais recente livro “A Linha Tênue”.

Rubem: A Linha Tênue é uma compilação de trinta e quatro contos que obtiveram um retorno muito positivo dos leitores/escritores "beta" (leitores críticos, que leem antes da obra ser finalmente publicada). Outro ponto que difere o livro dos que comumente encontramos é o uso constante da chamada "metalinguagem".

Quando lemos um livro, em nossas mentes se forma uma espécie de linha divisória, que nos dá certo conforto; o que acontece nas páginas é fantasia e nos vivemos no mundo real. É esta a tal da linha tênue que eu tento romper no livro, fazendo uso de narrações não convencionais onde o leitor é inserido como personagem ativo, utilizando-se outros recursos não convencionais como textos em camadas, frases que podem ser lidas de trás para frente, easter-eggs (mensagens ocultas no texto).

Apesar deste certo atrevimento narrativo, tive a preocupação de não complicar, de não soar difícil. Desta forma, eu acredito que o livro seja inovador, mas sem ser hermético ou destinado a um público específico.

Quem quiser conhecer mais sobre o livro ou desejar comprá-lo, visite o meu blog www.contosagridoces.blogspot.com ou o blog de divulgação do livro www.livroalinhatenue.blogspot.com

Vagner: Você está radicado há alguns anos em Zurique (Suíça). Responda-nos uma curiosidade: os suíços leem muito? Qual é o gênero literário mais lido ai?

Os suíços leem bastante; é comum de se ver gente lendo nos transportes públicos, praças e cafés. Acredito que o gênero do romance histórico e a fantasia são os gêneros mais lidos. O autor brasileiro Paulo Coelho é bastante conhecido por aqui também.

Rubem: Mudando agora de assunto... Do que você sente mais falta do Brasil e o que gostaria que o nosso país tivesse da Suíça?

O que mais sinto falta do Brasil é da informalidade, da facilidade com que fazemos novas amizades, com que conversamos e rimos com os outros. Os suíços (da parte alemã do país) são muito mais reservados e sérios do que nós; tudo exige agendamento, planejamento, não há muito espaço para o espontâneo.

Por outro lado, a segurança pública, a qualidade dos serviços oferecidos pelo Estado, a transparência na política e na administração pública, tudo isso é muito mais avançado do que o que temos no nosso Brasil. Então, vivo hoje aqui de certa forma sob um conflito interno; por sentir saudades do Brasil e por às vezes me sentir um tanto estrangeiro quando estou de volta também.

Vagner: Você é carioca, mas viveu dos 15 aos 30 anos em São Gonçalo. Que boas recordações carregam consigo desse período gonçalense? Algumas experiências vividas na cidade já serviram de inspiração para as suas obras?

Eu ainda tenho parentes que vivem hoje em São Gonçalo. Na época em que mudei-me minha mãe queria viver mais próxima do seu irmão mais velho. Eu vivia em apartamento no Rio e fui morar em uma casa na Brasilândia, com espaço para um jardim e para mascotes também.

Por tudo isso, minhas lembranças são boas; dos vizinhos simpáticos, das amizades que fiz, de sentir-me mais livre para brincar. Lembro-me do Instituto Clélia Nanci onde terminei o 2° grau, da Praça Zé Garoto (tão bonita com seu colorido chafariz musical), do Alcântara, grande polo comercial do Estado do Rio. Vale lembrar que alguns personagens foram inspirados nesses tempos, que eu guardo com carinho na memória.

Toda vez que vou ao Brasil sempre visito São Gonçalo e tenho ficado muito feliz ao notar o crescimento e o desenvolvimento de tudo.

Vagner: Caríssimo Rubem, muito obrigado pela entrevista. Desejo-lhe muito sucesso para o livro “Linha Tênue”! Abraços!

Rubem: Muito obrigado, Vagner! Fiquei honrado com o seu convite e desejo igualmente muito sucesso ao seu blog e mando um abraço carinhoso a todos os seus leitores.
Para adquirir o livro, clique AQUI.

Vídeo de divulgação do livro

5 comentários:

  1. Parabéns Vagner, você está sempre trazendo novidades legais pra gente. Gostei da entrevista do Rubem Cabral. Quero aproveitar para parabenizar o autor pelas suas obras literárias. É sempre gratificante tomar conhecimento de brasileiros que tem trabalhos reconhecidos no exterior, principalmente quando esses tem alguma ligação com a nossa cidade. Continue fazendo mais entrevistas, Vagner, você é muito bom nisso. Forte abraço!

    ResponderExcluir
  2. Cada vez mais tenho orgulho da nossa cidade.

    ResponderExcluir
  3. Parece um bom livro. Fiquei curioso.

    ResponderExcluir
  4. Comprei o livro e estou adorando! :)

    ResponderExcluir
  5. Gosto muito dos textos do Rubem, sou seguidora do seu blog. Parabéns amigo, pela entrevista, estou na torcida por muito sucesso.
    Beijos
    SM

    ResponderExcluir