sexta-feira, 2 de julho de 2010

Entrevista: Professor Josemar Carvalho

34 anos, professor de geografia (lecionando nas redes pública e privada – UNIVERSO), graduado e pós-graduado pela UFF e presidente do PSOL São Gonçalo, Josemar Pinheiro de Carvalho, mais conhecido como Professor Josemar, é daqueles gonçalenses que não para de pensar na cidade um só instante.

É tanta a devoção que ele chegou até a concorrer a vaga de prefeito nas últimas eleições (2008), quando obteve 14.246 votos.

Para um partido pequeno, sem recursos e sem nenhuma expressão na época e um rapaz até então desconhecido do eleitorado, até que ele não fez feio nas urnas.

E agora nesta entrevista os leitores do blog vão ter a oportunidade de saber um pouco mais sobre o que pensa este bravo guerreiro gonçalense.

Confiram e boa leitura!

Vagner Rosa: Quando e como a política entrou em sua vida?

Professor Josemar Carvalho: Vagner, eu sou militante desde 1991, eu tinha 15 para 16 anos quando começamos a montar o Grêmio Estudantil no Colégio Macedo Soares, aí começou a participação política.

Daí para frente eu não parei mais, foi Diretor de Cultura e depois Presidente do Grêmio. Ainda no movimento secundarista participei ativamente do “Fora Collor” e Vice-Presidente da UNES (União Niteroiense de Estudantes Secundaristas).

Nos meados dos anos 90 participei do movimento de transporte em São Gonçalo, onde se discutia novas linhas e transporte de massas para cidade. Chegamos a obter uma vitória parcial com linha 12-A e 13-A até o Morro do Castro.

No movimento universitário, fui diretor do C.A. de Geografia e Diretor do DCE da UFF, defendíamos moradia estudantil; passe-livre para os estudantes, e uma universidade pública, gratuita e de qualidade a serviço dos trabalhadores.

Na militância partidária fui do PT durante 10 anos, onde nunca foi candidato. Sai quando expulsaram os deputados radicais (Heloisa Helena, Babá, João Fontes e Luciana Genro). A Reforma da Previdência que taxou inativos e aumentou o tempo de aposentadoria foi uma grande decepção e traição no meu entender.

Já na construção do PSOL, ajudo a construí-lo nas cidades do Leste Metropolitano, em especial em São Gonçalo (onde sou o Presidente do Diretório Municipal) e em Itaboraí.

Desta forma, sou militante há quase 19 anos. Embora tenha sido candidato apenas uma vez. Participação política é mais do que eleições. As eleições é um momento da nossa luta, não é o único.

Vagner: O que levou a se candidatar a prefeito em 2008?

Professor Josemar: A necessidade de apresentar uma alternativa política diferente para São Gonçalo. Entendemos que São Gonçalo precisa de uma transformação profunda, precisamos fazer o nosso município evoluir política, econômica e culturalmente.

Chega de pisar na lama, de esgoto a céu aberto, de exploração da AMPLA e de termos microônibus desrespeitando a população. Precisamos de novas discussões e de novos representantes.

O PSOL sentiu essa necessidade e coube a mim a responsabilidade de realizar a tarefa. Apresentamos uma campanha limpa, com propostas e discussão qualificada. Apesar de termos poucos recursos financeiros.

Vagner: Como o senhor avalia o governo Panisset?

Professor Josemar: O Governo Panisset é muito ruim. Não faz nada. Um governo omisso e com caráter ético duvidoso. A inoperância na questão das enchentes é um fato desastroso. Os escândalos na saúde são grandes exemplos de vexame. O autoritarismo e segregação religiosa também são marcas desta gestão. O Governo Panisset é vergonha política para o município.

Vagner: Como o senhor avalia a política gonçalense como um todo?

Professor Josemar: Vagner, eu acho que São Gonçalo tem muito a evoluir politicamente. Temos pessoas capazes; movimentos sociais combativos, apesar de incipientes; e partidos de esquerda em construção como o PSOL e o PCB no município. Infelizmente na cidade impera o “clientelismo” e o “fisiologismo”. É preciso mudar a lógica e construir a participação popular e romper com as amarras do atraso cultural e político.

Vagner: Com uma política voltada praticamente para o assistencialismo e o fisiologismo, o senhor acha que a política em São Gonçalo tem futuro?

Professor Josemar: Como falei na resposta anterior, acreditamos no futuro e queremos construí-lo de forma justa e solidária. São Gonçalo precisa de uma transformação profunda para que a população não seja usurpada nos seus direitos básicos como água, luz e transporte; para que as escolas municipais e os postos de saúde sejam de qualidade. Para isso acreditamos na participação popular. A medida que participação da população aumenta nos fóruns decisórios o clientelismo e fisiologismo se enfraquecem.



Professor em campanha para prefeito em 2008


Vagner: O que precisa ser feito para a realidade de São Gonçalo se modernizar?

Professor Josemar: Em primeiro lugar, temos que mudar a mentalidade de que São Gonçalo é uma cidade dormitório. Esse papo é velho e não tem base cientifica. Virou um discurso vazio e de senso-comum e que só serve para desqualificar a cidade, baixando ainda mais a auto estima de seus moradores.

Em segundo lugar, precisamos de um projeto político-social que entenda São Gonçalo como parte da metrópole fluminense e que coloque nesta direção de forma democrática, participativa e redistributiva. Hoje em São Gonçalo ocorre uma modernização conservadora, onde empreendimentos construídos são cada vez mais concentrados nos pólos centrais da cidade (o Centro e Alcântara). A cidade ainda é pensada com a cabeça de 30 ou 40 anos atrás.

Terceiro é precisamos de um plano de obras públicas que esteja alinhado com as perspectivas anteriores. Este plano deverá respeitar a legislação ambiental e pressupostos urbanos de meio ambiente saudável.

A proposta que defendo tem um tripé que passa pela mudança da mentalidade; construção coletiva de um projeto social e político; e ação socialista na atuação dos problemas.

Vagner: O partido do senhor tem fama de ser radical e de ter um discurso de esquerda ultrapassado. A realidade do PSOL condiz com a imagem que é passada?

Professor Josemar: Vagner, “Radical” é todo aquele que defende sua solução de seus problemas pela raiz, buscando ir à fundo os problemas. Hoje na política em alguns momentos é necessário ser “radical”, porque ser “radical” é sinônimo de ser ético. Não podemos ser tolerantes com a corrupção, com desvio da verba pública, com o descaso com a saúde, com educação, com retirada de direitos trabalhistas e muito menos com o “entreguismo” das reservas do patrimônio ambiental-mineral-cultural de nosso país.

Agora, não concordo que para sermos radicais precisamos ser dogmáticos e sectários. Daí vem a nossa diferença com o PSTU, que é estreito. Na campanha eleitoral, expressamos bem isso, falamos e abordamos todos os assuntos nacionais, mas soubemos fazer a ligação com a realidade local. Não criamos estereótipos e nem caricaturas.

O PSOL é o novo com leveza política e com muita criatividade. Agora, temos princípios, por isso somos considerados como radicais.

Vagner: Como o senhor vê a defesa da ex-radical Heloisa Helena a candidatura de Mariana Silva, do PV?

Professor Josemar: A aliança do PV com o “Demo” e com PSDB foi principal fator do não apoio do PSOL a candidatura de Marina Silva. Sua candidatura não disse a que veio. Não faz balanço das gestões anteriores (do Lula e de FHC). Não discute de forma global as questões. Por isso, o PSOL terá candidato próprio que será o companheiro Plínio de Arruda Sampaio.

Vagner: Por que a vitória do Plínio Sampaio para concorrer à presidência da república rachou o partido? O senhor também tinha preferência pelo nome do Martiniano Cavalcante?

Professor Josemar: Rachou não ... risos ... Estremeceu as relações!

O PSOL é um partido socialista e democrático, por isso convivem no seu interior vários posicionamentos de esquerda que acreditam superação da sociedade capitalista. É natural que o debate seja acalorado.

Em relação ao nome do Martiniano, para nós era o melhor nome, pois expressava uma concepção de partido de vanguarda com influencia de massas. Ou seja, um partido que tenha militantes socialistas aguerridos (não apenas fechados em si mesmo) mais que sejam antenados nas inspirações concretas e subjetivas da classe trabalhadora no seu cotidiano.

Vagner: O PSOL foi criado por ex-petistas decepcionados com o rumo que o partido tomou depois que chegou ao poder. Para o senhor o PT ainda pode ser considerado um partido de esquerda?

Professor Josemar: O PT não é mais um partido de esquerda. Traiu a classe trabalhadora e suas lutas. Vamos aos exemplos: o projeto de reforma da previdência do governo Lula, a grosso modo é a mesmo de FHC, propôs a taxação de inativo e aumento o tempo de contribuição. Seguindo a cartilha do Banco Mundial.

As perdas da classe trabalhadora são cada dia maiores. A carga tributária sobre a classe média é absurda, vide Imposto de Renda e demais impostos diretos e indiretos. A taxa de juros no Brasil é um absurdo! Além do fato de que foi no Governo Lula, o período onde os Banqueiros mais lucraram.

As praticas eleitorais do PT não se difere dos demais partidos da ordem. É caixa dois, é propinoduto. Isto tudo sem falar do mensalão, do dinheiro na cueca, do sambinha no plenário, do apoio a Sarney, ... (isto tudo o PT estava envolvido!).

Vagner: É mito ou é verdade o discurso de que no Brasil não existe mais ideologia política?

Professor Josemar: É mito!

Basta ver os movimentos sociais que lutam. Os partidos de esquerda que fazem trabalho cotidiano de politização. A construção da nova central sindical que será formada em junho deste ano, através da INTERSINDICAL e da CONLUTAS.

Existe muito construção política ideológica neste país. Podemos citar os companheiros que saem de casa, enfrentam o batente do trabalho e participam das reivindicações de sua categoria, do seu bairro e da sua escola ou universidade.

Agora, os falam que a ideologia acabou são abutres e serviçais do capitalismo e miséria da sociedade. E importante dizer que o ato de dizer que não há mais ideologia é uma construção ideológica que só serve as elites.

Vagner: O PSOL é um partido de oposição? Como o senhor avalia o governo Lula?

Professor Josemar: O PSOL é partido de oposição de esquerda ao Lula. Para nós, o governo Lula traiu as esperanças da classe trabalhadora e retardou o processo de consciência critica de nossa população.



Professor Josemar em sala de aula


Vagner: Mudando de assunto agora, revele algumas preferências pessoais do senhor...

Esporte: Futebol

Time: Flamengo

Jogador de futebol: Zico

Livro: Vários gosto de livros de Marxismo, de Geografia e sobre Vampiros como lazer.

Escritor: Anne Rice

Filme: Alguns filmes me marcaram muito: “Cidades dos Anjos” com Nicollas Cage; e “O Homem da Mascara de Ferro”, com Leonardo Dicaprio;

Atriz:Thaís Araújo

Ator: Nei Latorraca

Programa de TV: TV Senado

Música: Não tenho discriminação com música, gosto do Funk à musica clássica. Se tiver qualidade eu apoio e escuto.

Banda: Legião Urbana

Cantor: Jorge Ben Jor

Cantora: Marina Lima e Cássia Eller

Cidade: São Gonçalo

País: Brasil

Estado: Rio de Janeiro

Comida: Como de tudo ... (Risos)

Religião: Não tenho prática religiosa, respeito todas. Inclusive discordo profundamente das pessoas públicas que fazem segregação religiosa. A discriminação religiosa é um absurdo. Não queremos que o nosso município e nosso país se transforme numa Irlanda do Norte.

Frase: "Proletários de todo mundo, uni-vos"

Personalidade política: A deputada Luciana Genro

O que não gosta em São Gonçalo: Da gestão da Prefeitura, do atraso político, da desorganização urbana, etc ...

O que gosta em São Gonçalo: Da minha história na cidade; e da história da própria cidade.

Vagner: O senhor virá como candidato a algum cargo nas próximas eleições?

Professor Josemar: Serei candidato a Deputado Federal, estamos começando a organizar a campanha. Compreendo que é necessário, termos um representante em Brasília que fale a língua dos que enfrentam os ônibus cheios todos os dias; dos profissionais de saúde e educação que ganham salários baixos; dos acham um absurdo a tabela do Imposto de Renda e preços abusivos dos pedágios; dos que pisam na lama; dos que são lesados pelas companhias de águas e de luz; daqueles que se preocupam com o meio ambiente e com qualidade da vida da população. Quero representá-los na perspectiva do socialismo e liberdade democrática.

Vagner: Muito obrigado pela entrevista.

Professor Josemar: Eu que lhe agradeço, estou a disposição sempre que precisar. Seu site é extrema qualidade, faz jornalismo de verdade e debate sério. É com pessoas como você, Vagner, que mudaremos a triste realidade que hoje se encontra o nosso município, o nosso Estado e no nosso país.


Reunião no Diretório Regional do PT - 1995


9 comentários:

  1. Lembro das vezes que o encontrei nas ruas na época da campanha para prefeito em 2008.
    Ele me pareceu ser uma pessoa bem intencionada politicamente, mas o problema é o partido dele e a ideologia que eles pregam que está muito longe da atual realidade econômica que vivemos. é uma coisa utópica demais.

    Lucio Carvalho

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  2. Vagner, eu já tinha lido essa entrevista no blog politica gonçalense que infelizmente você não escreve mais.
    Você deu um espaço que nenhum outro veiculo de comunicação deu ao professor Josemar. Acho que as ideias dele estão compativeis com a ideologia que ele segue. Só acho que a população gonçalense como um todo não tem informação política para entender as propostas dele. O que é uma pena.
    Gostaria que ele representasse a nossa cidade em algum cargo político.
    Quem sabe agora ele vai, não é mesmo.
    Abraço.

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  3. Concordo plenamente, acho que a ideologia que segue é viável, pena que o povo só vota em candidato que injeta mais grana em propaganda, pois as pessoas não tem noção de como se informar a respeito dos candidatos, aí quem aparece mais na mídia é mais lembrado pelo povão...

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  4. São Gonçalo precisa de gente como o professor Josemar,um guerreiro, honesto, trabalhador, amigo da comunidade, quem não conhece esse sorriso.Esperamos e contamos com você.

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  5. Será que ele vem a Prefeito novamente?
    Se ele vier, o meu voto é dele! Prof. Josemar neles!
    Temos que varrer todos os falsos representantes - Rafael, Graça,Eduardo Gordo, Ezequiel, Konder, Neilton Mulim, Altineu Cortes -, todos esses que atrasam São Gonçalo.

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  6. Esse nós apoiamos e votamos. em são gonçalo.

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  7. Ele foi meu professor, e sei que ele é capaz! Força professor Josemar, a Escola Municipal Antônio Alves Vianna está com o senhor!

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  8. André Vinicius de Paula21 de março de 2015 às 11:36

    A entrevista é antiga, mas contexto é muito atual ...
    Gostaria que o professor Josemar falasse sobre a crise econômica que estamos vivendo em 2015 neste renomado blog

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