segunda-feira, 22 de agosto de 2011

TG entrevista o ator gonçalense Rheinaldo Baso

Formado em Educação Artística pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro, em São Gonçalo (FFP-UERJ), ator, cantor, poeta, produtor e ativista cultural, Rheinaldo Baso, 41 anos, é literalmente um operário da arte. Este gonçalense, que foi também um dos idealizadores e fundador moral da Fundação de Artes de São Gonçalo (FASG), não para de produzir arte. No próximo sábado (27/08), após três anos longe dos palcos – devido a compromissos com outros projetos artísticos –, retorna a ribalta para apresentar, no Teatro Carequinha, o espetáculo litero-musical “Das Desilusões do Amor”. Com o propósito de valorizar cada vez mais a cultura em São Gonçalo, o Blog Território Gonçalense entrevistou o artista da terrinha para saber um pouco mais sobre sua trajetória artística e o seu novo trabalho. Confira abaixo.

Vagner Rosa: Em seu release biográfico, você informa que nasceu na rua, no dia 20 de novembro – Dia Nacional da Consciência Negra. Se incomoda de comentar sobre esse acontecimento?

Rheinaldo Baso: É motivo de orgulho este primeiro episódio da minha vida. Costumo dizer que sou mais gonçalense por isso. Além de ser na rua, esta se chama Primeiro, 1º de outubro. Então isso sela o início de minha missão gonçalense. Acredito que deva-se a isso o meu desejo por uma cidade melhor.

Vagner: Mas como se deu esse nascimento na rua?

Rheinaldo: Minha mãe estava a caminho da maternidade. A bolsa estourou e cá estou eu! (risos)

Vagner: Foi você quem abraçou a arte ou foi ela que te abraçou?

Rheinaldo: Foi um esbarrão na esquina da vida. Desenhava quando criança e a leitura e a música sempre estiveram muito presentes na minha vida. Meus pais cantavam, minha avô, Yalorixá, nos ensinava cânticos e histórias do Candomblé. Arte é inerente a mim, sempre estivemos juntos, desde o toque de minha cabeça no chão desta cidade.

Vagner: Você foi um dos integrantes do famoso grupo vocal Garganta Profunda, regido pelo prestigiadíssimo maestro Marcos Leite. O que representou aquele momento em sua vida? Viajou bastante com o grupo?

Rheinaldo: Não inteiramente integrante oficial. Fiz algumas apresentações com o grupo quando o saudoso Marcos regia o Coral do Rio, era um crooner standim, que substituía alguém quando necessário, o que era raríssimo, e nos discos engrossava os coros. Mágico momento de minha carreira, pois aprender com a maior referência de regência em coro do Rio na época me fez crescer e me aproximar mais do canto. Quase larguei a arte cênica de vez e me aproximei também da poesia. Era muito efervescente a cena poética e literária do Rio de Janeiro nesta época.

Vagner: E como aconteceu essa sua aproximação com a arte que expressa o sentimento das palavras?

Rheinaldo: Como disse, o canto coral me aproximou muito da interpretação das letras de canções. A convivência com Denoir Quissamã, já em São Gonçalo, também me provocava. Meu tio, ligado à política quando eu era guri, recebia Otto Sampaio e outros apaixonados por poesia em saraus na sua casa, onde costumava passar férias e também vários músicos consagrados começaram a musicar poemas, além das antológicas interpretações de Maria Bethânia. Poesia sempre me circundou.

Vagner: Como ativista cultural, você foi um dos idealizadores e fundador moral da Fundação de Artes de São Gonçalo (FASG), que se transformou em realidade em 1997. E hoje, qual é a realidade da FASG?

Rheinaldo: Acredito que a FASG está aquém de seu potencial. Muito aquém. A falta de técnicos prejudica a evolução da autarquia, além é claro de um plano de política cultural, o pior é que hoje os artistas não se sentem representados e não a querem representá-la e ao município em festivais, encontros de arte, seminários e afins território a fora. Sábado passado (20/08), Marlon Borgge, Claudia Sing, ganharam o 1º festival de música ecossocial de Niterói, ele melhor música, composta junto ao saudoso Halussan e ela melhor intérprete, sozinhos, lutam muito aqui dentro e fora sem nem reconhecimento do órgão, não há mapa artístico. Essa distância entre as partes prejudica a evolução das discussões inerentes à área.

Vagner: Como administrador, por duas gestões (2007/2008 – 2009/2010), do único teatro da cidade – Teatro George Savalla Gomes (Carequinha) –, você foi responsável pelo trabalho de formação de platéia. Como se deu o desenvolvimento desse trabalho?

Rheinaldo: Quando cheguei a Superintendência de artes cênicas, convidado pelo então presidente e em minha opinião o melhor até hoje, Juracy Pacheco, tive que substituir um dos maiores nomes da cena teatral do município, nada mais nada menos que Dayse Cervai, que me indicou ao cargo. Os festivais enchiam o teatro na sua temporada, mas a platéia não permanecia ao longo do ano. Procurei a comunidade. Fiz acordo com padres e pastores para divulgação da existência do espaço. Corri as escolas do entorno e adjacências. Consegui produzir uma programação mensal regular e divulgar isso através de cartazes, rádio comunitária e carro de som bancados pela fundação (meu agradecimento a Carlos Mantrha) e assim o público passou a freqüentar.

Houve mudança no comando e eu voltei ao Estado. Na segunda gestão foi mais difícil realizar novamente um trabalho que se perdeu, além da presidência da FASG ser agora uma terceira, o panorama era outro. Mas recebi produções fantásticas e consegui inserir São Gonçalo no roteiro de festivais como o “Novas Cenas”, promovido pelo governo do Estado, Projeto Pixinguinha onde recebi duas edições e incluí-lo no port de produtoras de renome. Havia, e acho que ainda há, preconceito contra a cidade. Outra estratégia foi a popularização do teatro para o próprio governo e trabalhadores do governo, recebi conferências de todas as secretarias municipais (menos cultura), fazendo assim que secretários de governo enxergassem a importância do espaço. A própria Prefeita foi por mim recebida em diversas ocasiões.

Vagner: Qual é o perfil do público gonçalense de teatro? O que ele gosta de assistir no palco?

Rheinaldo: A pena é que o público gonçalense está numerando platéia no Rio. Quem vem ao teatro aqui, vem para assistir Stand-Up Comedy, mas este não é regra. O que também dá muito certo, que enche espaço é a dança. Quero um festival divino. Vou batalhar por isso, sem pressa.

Vagner: Como produtor e ativista cultural, na sua opinião, qual é a dificuldade que existe para as peças do Rio e de São Paulo fazerem temporadas populares em São Gonçalo?

Rheinaldo: Falta de espaço! Se for uma produção legal, bem divulgada, a preço popular então, as pessoas veem.

Vagner: Após um jejum de três anos dos palcos, você está de volta a ribalta com o espetáculo litero-musical “Das Desilusões do Amor”, que será apresentado, no próximo sábado (27/08), no Teatro Carequinha. Fale um pouco sobre este novo trabalho.

Rheinaldo: O espetáculo é fruto de questionamentos trazidos a partir da experiência em cursos e seminários e minha aproximação com o Movimento de Mulheres de São Gonçalo e a divinal Marisa Chaves. O amor tomou ar de vilão pra mim nesta época. Eu mesmo me peguei praticando estranhezas em nome deste nobre sentimento. Achei curioso e comecei a pesquisa literária e com o processo lento e despretensioso as outras pesquisas vieram, música, maquiagem, corpo, roteiro...

Recebo poetas de todo o mundo no roteiro e gonçalenses também, as músicas são do cancioneiro popular e composições do parceiro de cena Leon Costa, umas feitas para o espetáculo. Uni duas formas de amor, o Eros e o Pátrio, mas a mensagem final é que Tudo vale a pena, quando a alma não é pequena.

Vagner: O espetáculo terá uma única apresentação ou já estão programadas novas edições?

Rheinaldo: Sim. Devemos ir a Minas Gerais e a produção está em contato com a Costa Verde para fechamento de pacotes de apresentação. Em novembro estarei em Itaboraí e janeiro no Gláucio Gil, em Copacabana.

Vagner: Rheinaldo, muito obrigado pela entrevista! Um dos objetivos do Blog Território Gonçalense é destacar também os talentos da cidade. E você é um desses. Desejo muito sucesso para o seu espetáculo!

Rheinaldo: Agradeço a atenção dispensada e disponho-me a ajudá-lo na divulgação deste tão importante veículo para minha Cidade.

Vagner: Valeu! Sucesso!!!


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2 comentários:

  1. Adorei a entrevista! Sou sua fanzaça, Rheinaldo!
    Já estou divulgando pro pessoal essa entrevista. Muita merda pra você, Rheinaldo!!!!!!!!!!!!

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  2. Rheinaldo Baso é um MONSTRO da arte gonçalense. Já presenciei vários momentos maravilhosos dele, e mais de uma vez ele me fez reacreditar no poder da arte.

    EVOÉ, Rheinaldo Baso! BRAVO!

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