sexta-feira, 7 de outubro de 2016

MULIM PERDEU DE BOBEIRA. OU: A COMUNICAÇÃO SEMPRE FOI O CALCANHAR DE AQUILES DE SEU GOVERNO


Passado o terremoto eleitoral, em que as abstenções, votos brancos e nulos venceram as eleições; Mulim dançou; e Nanci e Dejorge foram para o segundo turno, agora, é possível analisar com mais calma o que aconteceu no primeiro turno do pleito municipal de São Gonçalo.

ABSTENÇÕES, BRANCOS E NULOS: O GRANDE VENCEDOR DA ELEIÇÃO

O "Ninguém" foi o grande vencedor destas eleições em diversas cidades brasileiras. Em São Gonçalo, também não foi diferente: 281.248 eleitores (soma de abstenções, brancos e nulos) deixaram de votar para prefeito e vereador. 

O que podemos concluir deste fenômeno eleitoral é que há uma enorme descrença das pessoas com a relação à classe política. Também pudera, após os últimos escândalos de corrupção escancarados pela Lava Jato, era mais do que esperado esse resultado.

Quanto à questão regional, ficou evidente que os candidatos não empolgaram e convenceram esses eleitores gonçalenses.

JOSÉ LUIZ NANCI E DEJORGE PATRÍCIO NO SEGUNDO TURNO

Embora Nanci e Dejorge sempre aparecessem bem posicionados nas pesquisas, ninguém imaginava que o segundo turno seria disputado entre os dois candidatos, que ficaram em primeiro (82.848 votos) e segundo ( 81.952 votos) lugares, respectivamente.

No entanto, o resultado mostrou que o povo gonçalense se dividiu na preferência entre um político tradicional carreirista (com vários mandatos de vereador e dois de deputado) e um novato de perfil bem popular (com apenas um mandato atual de vereador) para governar São Gonçalo, a partir de 01 de janeiro de 2017.

Muita gente se surpreendeu com o resultado e não está gostando nadica deste segundo turno. No entanto, penso que temos que aceitar a escolha do povo e analisar agora com muita atenção as propostas de cada um e votar com consciência naquele que poderá dar um futuro melhor para a nossa cidade.

Não podemos perder a esperança. São Gonçalo não acabou, minha gente!

Agora, o fato interessante é que os dois tiveram pouquíssimo tempo de propaganda política. Isso comprova que tempo de televisão não é tudo. O sucesso eleitoral depende de outros fatores e circunstâncias, que muitas muitas vezes a lógica não consegue visualizar.

BRIZOLA NETO EM 4º LUGAR

Ancorado pelo saudosismo da política educacional do avô e pelo prestígio que a ex-prefeita Aparecida Panisset ainda goza na cidade, o neto do ex-governador Leonel Brizola surpreendeu na disputa eleitoral gonçalense. Começou desacreditado e alcançou o 4º lugar, com 49.599 votos. Vale destacar que até, há alguns dias, antes da eleição, o nome de Brizola Neto aparecia liderando as pesquisas.

Não fosse o baque que sua campanha sofreu, após os eleitores tomarem conhecimento da manipulação eleitoral em seu material de campanha (escondia a vice verdadeira e destacava Aparecida Panisset como se fosse ela a vice) e mais os ataques nas redes sociais,  Brizola Neto teria, quem sabe, sido eleito no primeiro turno ou ido para o segundo turno. 

Entretanto, o fenômeno Brizola Neto é um case a ser estudado pelos políticos gonçalenses. Independente de ele ter sido ancorado pelo legado educacional do avô e pela Panisset, fato é que ele se destacou e ficou à frente de candidatos com currículo político na cidade. Como é que pode um candidato que só se  mudou para São Gonçalo no ano passado, sem qualquer referência e identidade com o município, ficar em 4º lugar e já ter liderado as pesquisas? 

Outro fato interessante que podemos observar na candidatura de Brizola Neto é a liderança política da ex-prefeita Aparecida Panisset.  Apesar de todos os escândalos de corrupção envolvendo seu governo, ela continua fortíssima. Se ela não tivesse inelegível e fosse a candidata, não duvido nada de que, a mulher dos cabelos vermelhos teria levado a Prefeitura, já no primeiro turno.

MARLOS COSTA, DIEGO SÃO PAIO E DILSON DRUMOND: A OPOSIÇÃO QUE NÃO CONVENCEU

Em 5º lugar, com 41.145 votos, Marlos Costa (PSB) até que teve um bom resultado se levarmos em conta  que as pesquisas sempre o mostrava entre os  últimos lugares, na faixa de 3% a 2%, em intenção de votos.

Na minha opinião, esteticamente, a propaganda eleitoral do Marlos foi bem produzida, mas faltou emoção. A mensagem do candidato não empolgou. Marlos não construiu uma marca forte para o seu nome. Seu nome não esteve associado a nenhuma proposta ou ideia marcante. Seu discurso oposicionista foi vazio, genérico demais. Faltou organização em seu conteúdo.

O mesmo aconteceu com Diego São Paio (Rede), que ficou em 6º lugar, com 33.474 votos. Embora o candidato tenha criado a marca de  "gestor político" e explorado o discurso da necessidade de se fazer uma nova política, seu conteúdo ficou disperso. 

Sem tempo na TV, Diego investiu fortemente nas redes sociais com formatos inovadores. Porém, faltou organização em seu conteúdo. Teve muita informação em meio à tantas outras de outros candidatos. Ficou difícil para o eleitor identificar a sua mensagem de forma clara. Ele deveria ter focado em um ou dois temas, no máximo.  Seu discurso oposicionista também não convenceu.

Aliás, vale ressaltar que nem, na Câmara, os discursos oposicionistas de Marlos e Diego convenciam.

Outro nome da oposição que não convenceu foi o do Dr. Dilson Drumond (PSDB), que ficou em 7º lugar, com 31.165 votos. Os ataques do candidato contra a administração do prefeito Neilton Mulim, por exemplo, em seus últimos programas eleitorais, não convenceram de jeito nenhum, não passaram credibilidade.

Vale lembrar que o candidato foi secretário Anti-Drogas do Governo Mulim até abril deste ano, prazo máximo dado pela Justiça Eleitoral para quem quisesse concorrer as eleições a se desincompatibilizar de seus cargos. Ou seja, ele ficou no governo até o máximo que pôde. Como levar fé numa oposição dessa?

PROF. JOSEMAR E DAYSE OLIVEIRA: A OPOSIÇÃO RADICAL QUE NÃO TEM VEZ EM SÃO GONÇALO

Em 8º lugar, com 16.754 votos, ficou o Prof. Josemar (PSOL). Durante toda a campanha, o candidato apregoou ser a única oposição verdadeira em São Gonçalo. Não vou contestar sua afirmação. Na minha opinião, sem querer desmerecê-lo, pelo contrário, mas sim valorizá-lo, penso que Josemar deveria ter vindo como candidato a vereador e não a prefeito. Com certeza, na Câmara, sua oposição iria fazer uma enorme diferença.

Quanto à Prefeitura, sinceramente, não consigo vê-lo como prefeito, pelo menos, por enquanto. Não que ele não tenha capacidade para o cargo, a questão é o seu partido. O eleitorado gonçalense é conservador e jamais colocaria o PSOL no poder para governar a cidade.

Creio que Josemar virá como deputado estadual em 2018. A meu ver, ele tem chances. Mas terá que rever sua estratégia de comunicação. Vale destacar que sua votação nesta eleição (16.754) foi menor que a da eleição municipal de 2012 (19.510).

O último lugar coube a Dayse Oliveira, que obteve apenas 2.000 votos. Também pudera, usando os poucos segundos de sua propaganda eleitoral para proferir as patéticas frases  "Fora, Temer" e "Contra burguês, vote 16", essa colocação da candidata do PSTU já era mais do que esperada.

MULIM PERDEU DE BOBEIRA. OU: O PREFEITO SE COMUNICOU PESSIMAMENTE MAL

Para quem gozava uma alta rejeição de 70%, como apontaram algumas pesquisas, Mulim ter ficado em terceiro lugar, com 65.922 votos, foi uma grande surpresa. Imaginava-se que ele amargaria os últimos lugares. 

Com mais 20.248 (5%) votos, Mulim teria ido para o segundo turno com Nanci ou Dejorge.  Ele só não foi para o segundo turno por causa de sua péssima comunicação na campanha eleitoral. Aliás, a comunicação sempre foi o Calcanhar de Aquiles de seu governo. 

Além de ter passado quatro anos praticamente enfurnado em seu gabinete, o prefeito não soube promover os feitos positivos de sua administração e fazer o contraponto às críticas dos adversários.

Faltou ao seu governo uma boa estratégia de comunicação conectada com os novos tempos. Vale destacar que a internet hoje virou uma importante e fortíssima ferramenta de comunicação e promoção. O Governo Mulim não soube usá-la em seu favor. 

Poderiam ter usado a internet de forma eficaz não só para promover o governo como também para fazer o contraponto às críticas. Em tempos de redes sociais, a comunicação política tem que ser dinâmica. Acabou aquele tempo de comunicação de uma via só, ela não funciona mais.

Durante quatro anos, o Governo Mulim apanhou na internet vergonhosamente calado. Em nenhum momento houve o contraponto. O que aconteceu então? As críticas se cristalizaram e o negativismo sobre a administração do prefeito se consolidou totalmente.

Deixar para mostrar as realizações e responder a oposição só na propaganda eleitoral foi um grande erro. Foi tarde demais, a imagem negativa do governo já estava enraizada na mente de muitos. E, para piorar a já combalida popularidade do prefeito, ainda, cometeram aquela burrada no primeiro programa eleitoral, que deu oportunidade à oposição de tachar-lhe de mentiroso, por quatro dias ininterruptos, em seu horário gratuito. Aquele episódio foi de lascar!

Não estou querendo afirmar que a administração do prefeito Neilton Mulim foi perfeita, uma maravilha. De forma alguma, é óbvio que teve erros e problemas. Só mesmo um alienado político para não ter percebido os malfeitos de seu governo.

Entretanto, o seu governo também teve aspectos e feitos positivos. E vale ainda lembrar que Mulim pegou o tempo das vacas magras; diferente da Panisset, que pegou o tempo das vacas gordas.

A meu ver, o Governo Mulim não foi assim tão tenebroso como muitos apregoam. A sua comunicação é que foi péssima e contribuiu fortemente para que a grande maioria o classificasse como um dos piores da história política de São Gonçalo.

Que a incompetência comunicacional do Governo Mulim sirva de lição para o próximo prefeito não repeti-la. Fica a dica!


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