O Território
Gonçalense concorda integralmente com o editorial de hoje do jornal O Globo. Também
repudiamos veementemente o uso da violência em manifestações. Em nossa opinião, as depredações de
bens públicos e símbolos do capitalismo não vão conseguir mudar a realidade do
país de um dia para o outro. A democracia brasileira não pode ser ameaçada por
atos de vandalismo!
A democracia brasileira
Editorial O GLOBO - 23/02
Quem utiliza
a violência para corrigir injustiças sociais ou fazer valer direitos bebe na
fonte do totalitarismo e deve arcar com as consequências de seus atos
Passado o
primeiro impacto causado pelo absurdo assassinato do cinegrafista da TV
Bandeirantes Santiago Andrade, em pleno exercício da profissão, começam a
surgir aqueles que consideram compreensível, senão justificável, o uso de
violência em
manifestações. Trata-se de um raciocínio que constrange todos
os democratas. E que deve ser repudiado.
Muitos deles afirmam, com variações, em jornais, blogs e redes sociais, que o
assassinato era uma tragédia anunciada, um enunciado do qual não se pode
discordar. Mas não, como era de se esperar, porque manifestações violentas põem
a vida das pessoas em risco.
E sim, afirmam, porque a violência e suas consequências
seriam inevitáveis numa nação em que os problemas de seus cidadãos não são
resolvidos.
Criticam acidamente os que põem nos black blocs a culpa da eclosão da violência
nas manifestações, apelando para a origem internacional do fenômeno, que se
traduziria, não pela formação de grupos organizados, mas por uma atitude: para
acabar com o capitalismo, destroem bens públicos e de corporações, com o
objetivo de chamar a atenção, mas sem a intenção de ferir ou matar alguém (os
assassinos do cinegrafista não se definem como black blocs). Só se esquecem de
mencionar que em todas as democracias, quando eles agem assim, atingindo ou não
pessoas, são presos, responsabilizados, julgados e punidos.
Aqui, dizem, seria diferente, e haveríamos de ter um maior grau de tolerância
com a violência, porque viveríamos uma democracia capenga. Parecem querer dizer
que, para aqueles que acreditam que alguns de seus direitos lhes foram negados,
não basta o grito, o protesto: a violência se faz necessária. E, na visão
deles, é bom que seja assim, porque isso acelerará as transformações
necessárias para se chegar a um país melhor. Esse raciocínio, porém, é de um
extremo equívoco.
Presidente, parlamentares, governadores e prefeitos foram todos legitimamente
eleitos pela escolha livre popular. Temos Três Poderes harmônicos e
independentes, num sistema de pesos e contrapesos, em que um controla os
potenciais excessos dos outros. Temos uma imprensa absolutamente livre, que,
com apoio do nosso sistema jurídico, calcado na Constituição, rechaça ambições
autoritárias vindas de minorias. Desde 1994, os investimentos sociais cresceram
de forma exponencial, principalmente na última década, como é notório. E, numa
prova cabal de que no Brasil ninguém está acima de ninguém, hoje estão na
cadeia altos próceres do partido que está no governo desde 2003, pagando por
seus crimes de corrupção, sem que este mesmo governo tenha feito outra coisa
senão cumprir a lei.
É evidente que há desafios enormes. A corrupção é uma calamidade, a
desigualdade social ainda é lamentável, direitos básicos como educação, saúde,
transporte e habitação deixam muito a desejar, e quem sofre mais é o pobre.
Talvez seja por isso que digam que a democracia brasileira é capenga, mas até
nisso estão equivocados. A democracia não é sinônimo de sociedade mais justa
socialmente. A democracia é o único meio para se alcançar uma sociedade mais justa.
E num país ainda pobre como o nosso não se chega a uma sociedade menos desigual
do dia para a noite.
É saudável e legítimo que o povo, organizado ou não, saia às ruas para cobrar
os seus direitos. É assim em toda democracia do mundo. Mas ninguém, numa
democracia, pode querer alcançar esses direitos pela violência. Quem utiliza a
violência como método para corrigir injustiças sociais ou fazer valer direitos
se põe fora da democracia, bebe na fonte do totalitarismo e deve arcar com as
consequências de seus atos.
A democracia não é um projeto suicida. Não pode ser. Ela não pode aceitar que
façam parte do jogo democrático aqueles que querem acabar com ela. Por essa
razão, todos aqueles que são de algum modo complacentes com a violência como
método político, e se dizem democratas, mesmo sem intenção, enfraquecem a
democracia em vez de robustecê-la. Numa democracia estabelecida como a nossa,
não há espaço para um pensamento assim.
O povo brasileiro tem lutado por seus direitos com as únicas armas legítimas de
que dispõe: a voz, as manifestações e, a mais poderosa delas, o voto. Sair
desse terreno é se atirar no abismo: revoluções pela força, mesmo aquelas
feitas em nome e para o bem do povo, costumam resultar em tirania. O povo
brasileiro não precisa de vanguardas anacrônicas (um paradoxo a que estamos
assistindo), que acreditam que só elas sabem onde o bem está e são as únicas
capazes de conduzir o país até ele.
Os nossos problemas sociais são muitos. Mas não foram eles que levaram Santiago
de Andrade à morte. Isso é um desrespeito a ele, à sua família e aos seus
colegas de profissão. Ele foi morto pela ação de Fábio Raposo e Caio de Souza,
réus confessos. E por aqueles que os aliciaram, os financiaram e os armaram. A
democracia brasileira exige que essa cadeia de comando seja esclarecida e seus
responsáveis, punidos. Sejam eles quem for, tenham o colorido político que
tiverem, sejam criminosos comuns ou idealistas irracionais ou inconsequentes ou
ignorantes.
É louvável o modo como administra o blog. Mas, tratando-se de Rede Globo, devemos ficar sempre com os dois pés atrás. Suas intenções vão além do que avistamos. Um caso em que ela foi responsável direta e condenada a ressarcir, e que não podemos esquecer ou apagar da história foi a Escola Base em SP. Segue link: http://www.pragmatismopolitico.com.br/2012/12/caso-escola-base-rede-globo-e-condenada-pagar-r-135-milhao.html
ResponderExcluirFrancisco Neves - Nova Cidade